Como todo paraense sabe, dia de resultado do vestibular é inevitável ouvir Pinduca tocar na vitrola. Inevitável e divertido, pois essa marchinha tem a cara de felicidade e alívio dos calouros. Nesse sábado de Carnaval, fui à casa de uma prima, a Tetê, que um dia desses corria pelas ruas de calcinha com seu "cabelo de fuá", como falam na terra do meu pai, e naquele dia esperava ouvir o seu nome no listão da UFPA. Não ouviu, mas a comemoração estava garantida por ter passado em Administração na FAP. Tive que me apoiar na ponta dos pés para cumprimentá-la, preocupado em não sujar minha roupinha nova. A inflação corporal de minha prima não foi a única surpresa que tive aquele dia. Vi a minha madrasta se embriagar com dois míseros copos de caipirinha, e já estava tendo alucinações. Caipirinha lisérgica é uma novidade pra mim.
Mas voltando ao Pinduca: alguém esqueceu de apertar a tecla repeat para passarmos a tarde inteira ouvindo a marchinha do vestibular. Quando dei por mim, estávamos ouvindo a quarta faixa do disco. Quem conhece a música que fala "viva o soldado do Corpo de Bombeiros"? Nesse ínterim, meu pai lembrou que Pinduca é PM. A marchinha era simpática, e eu também tenho uma boa imagem dos bombeiros. Eles não estão envolvidos em tiroteios, ocupações militares, não te param na rua exigindo documento... eles são militares "do bem" pelo que me parece.
Só fiquei curioso com a terceira ou quarta faixa, em que Pinduca afirmava com veemência que o Pará tem o terceiro Carnaval do Brasil. A primeira coisa que pensei: onde estou com a cabeça que não percebi? Lembrei que a gravação provavelmente é dos anos oitenta, época em que Pinduca despontou como o Rei do Carimbó, controversamente, segundo uma certa velha guarda do ritmo. Mas ainda assim, não consegui conceber como um dia esse estado que já teve de tudo, teve também o terceiro maior Carnaval do país. Seria mero ufanismo pinducano? Seria baseado em uma pesquisa duvidosa, como aquela que apontou o Remo como dono da maior torcida do Norte?
Seja como for, o Pará está em queda livre há mais de cem anos. Nessas horas eu penso na música da banda-de-uma-nota-só Mosaico de Ravena, Belém-Pará-Brasil. Um retrato da desertificação que presenciamos, da flora, fauna e cultura amazônicas. Não defendo a preservação incondicional, mas um rejuvenescimento que está faltando. Falta dinheiro, falta criatividade, falta vontade. Vontade mesmo, só de ir embora. Última perda: o Cinema Nazaré. Já que a prefeitura adotou o Olímpia, que tal o governo do Estado adotar o Nazaré? É uma idéia. Quem sabe não passa um documentário sobre a Belém dos antigos carnavais?
Hoje é quarta de cinzas, e sempre desce o pano. É hora de trabalhar.
Alan Araguaia
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
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