"Lembra daquele rapaz franzino que você conheceu quando esteve em Belo Horizonte?" O rapaz franzino era Carlos Drummond de Andrade, e a memória que ele tentava refrescar era de seu grande admirado, e xará de sobrenome, o modernista Mário de Andrade. O tom da missiva é bastante humilde, pois enquanto Carlos era um estudante de vinte anos que ainda se acanhava em se dizer poeta, Mário já tinha protagonizado o maior movimento artístico que houvera no Brasil até então: a Semana de 22.
Apesar da reverência, Carlos em nenhum momento foi intelectualmente submisso a Mário. Desde a primeira carta enviada (de um estudante para um artista muito importante) ele se posicionou firmemente contrário ao que era mais caro a Mário: o orgulho de ser brasileiro. Carlos afirmava: é impossível ser modernista no Brasil, com esse povo atrasado. O sonho frustrado do poeta em sua adolescência era ter nascido francês.
Mário não demorou para responder ao rapaz de Minas, apesar das suas muitas ocupações como membro do círculo intelectual paulistano, o mais badalado desde então. Nota-se em suas palavras o sorriso compreensivo com que uma pessoa mais experiente cumprimenta um jovem confuso: "Carlos, para você sempre vai haver uma pedra no meio do caminho!" Diz, demonstrando que leu com carinho os versos enviados por Carlos, pedindo encarecidamente que opinasse sobre.
Apesar da reverência, Carlos em nenhum momento foi intelectualmente submisso a Mário. Desde a primeira carta enviada (de um estudante para um artista muito importante) ele se posicionou firmemente contrário ao que era mais caro a Mário: o orgulho de ser brasileiro. Carlos afirmava: é impossível ser modernista no Brasil, com esse povo atrasado. O sonho frustrado do poeta em sua adolescência era ter nascido francês.
Mário não demorou para responder ao rapaz de Minas, apesar das suas muitas ocupações como membro do círculo intelectual paulistano, o mais badalado desde então. Nota-se em suas palavras o sorriso compreensivo com que uma pessoa mais experiente cumprimenta um jovem confuso: "Carlos, para você sempre vai haver uma pedra no meio do caminho!" Diz, demonstrando que leu com carinho os versos enviados por Carlos, pedindo encarecidamente que opinasse sobre.
O que incomodava Carlos, como o próprio veio descobrir com as "sessões de análise a distância" dadas pelo de Andrade paulista, não era bem o Brasil ou os brasileiros. Tanto é que logo nas primeiras cartas ele confessa que gosta do Brasil. Só que nunca fez o estilo de Carlos o "escrever em língua do povo", como era a escolha de Mário. O mineiro diz francamente que não concordava em reproduzir na literatura o péssimo vocabulário popular. Mário explica que não escreve propriamente em língua do povo, mas estiliza esse linguajar, criando um dialeto próprio. Pouco depois, Guimarães Rosa faria isso em um nível poético absurdamente refinado.
Se eu não fosse facilmente desmascarado, diria que tive acesso privilegiado às correrspondências entre esses dois grandes intelectuais da arte brasileira. TODA a correspondência dos dois está reunida no tijolaço Carlos e Mário, uma belíssima edição com retratos de ambos, pintados por Portinari.
Apesar das diferenças nunca resolvidas, Carlos e Mário se amavam, dada a constância de cartas que durou até os anos quarenta, quando o último morreu. Eles quase nunca se encontraram pessoalmente, mas eram bastante íntimos. Nas primeiras trocas de cartas ainda, Mário fez essa imagem do que ele sentia quando lia as palavras de Carlos: "você veio com o cigarro na mão, deu um tapinha em minhas costas e perguntou: 'vem cá, te incomodo?'"
Imagens: Retrato de Carlos e Retrato de Mário de Andrade, Cândido Portinari
Alan Araguaia
2 comentários:
Legal! Será que há algum link para as correspondências? Abraços e vida longa ao Controversus.
Idéias revolucionárias?
Tomemos então a frente e falemos com o povo e para o povo. Nós queremos ouvir!
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