segunda-feira, 21 de maio de 2007

A velha

Observo a senhora que resmunga na calçada
"posso ajudar?", alguém pergunta que não eu.
"Não!", responde furiosa.

Senti que aquela era a minha avó
de sangue
o sangue que corre no mundo é um só
A barata é minha irmã de sangue.

A senhora tinha duas pernas firmes
andava com decisão nos passos miúdos
(mas frutos de uma cogitação)

Sentou-se em uma cadeira velha na esquina
(quando uma pessoa senta em uma cadeira velha na esquina já não tem mais nenhuma vaidade)
Não falarei mais dela porque virei as costas
minha vida estava amadurecendo no coração
e a dela apodrecia, no ponto de ser (re)colhida
ainda me julgo importante demais - armadilha, enredos da vida.

Alan Araguaia

2 comentários:

Andrey pitts disse...

Fabíola, o seu texto é brilhante, cada vez mais eu acredito que você, como deve ser uma brilhante acadêmica, deverá ser também uma competente e renomada profissional.
Tenha certeza que as fotos de sua avó representam muito do que é a afetividade pelas pessoas mais queridas da vida de cada um de nós.
Seu nome é forte e seu rosto ainda será muito conhecido no meio.

Fabíola Corrêa disse...

Agradeço desvanecida o elogio acima.
Quanto a poesia "A velha", as marcas da vida nos deixam amargos ou amorosos, depende de como encaramos as nossas experiênicas. Seremos assim quando formos mais experientes?