Igreja e sociedade, assim se definem a relação entre a visita incomum do Papa Bento XVI ao Brasil, com chegada prevista para hoje, dia 09 de maio de 2007. De maioria católica, o povo vê diante da tevê e dos jornais, notícias diárias com ares de espetáculo contendo os mais minuciosos detalhes de preparação da ilustre visita.
Seriam os protestantes, budistas, espíritas, umbandistas, messiânicos e tantos outros de diferentes orientações religiosas, obrigados a acompanhar tal evento? Seria o dia 11 de maio, data da futura canonização de Frei Galvão, vital ao ponto de vir a ser feriado nacional, paralisando o comércio e a economia brasileira (novamente!)?
Somos em maioria católica, contudo MAIORIA não quer significa TODOS. É um direito dos católicos de celebrar tal acontecimento, como também é um direito das pessoas de outras vertentes religiosas de trabalhar, de ir e vir. A qual ponto é importante quebrar a rotina de um país por conta de uma visita, mesmo que seja do Papa, e de transformar um dia “qualquer” em feriado?
Religião deriva do termo latino "Re-ligare", cujo significado é "religação" com o divino. Encontrar-se com Deus e descobrir a fé dentro de si é um processo vital da existência, independentemente de ser “dessa” ou “daquela” religião.
Religião é um conjunto de dogmas e normas de boa conduta baseadas em um senso comum, procurando harmonizar o convívio social. Entretanto, a sociedade vem se modificando ao longo desses anos, e certos conceitos vão ficando para trás. Novas igrejas ganham fiéis, enquanto a Católica tem perdido seus peregrinos. Essa visita soa como um resgate de seguidores, espetacularizando o acontecimento, acompanhada de certa dose de sensacionalismo e exagero dos meios de comunicação.
Fé, crença, não se distingue por cor, sexo, religiões. Crer é, acima de tudo, dar-se conta de que há uma existência divina, uma força maior que orquestra todo o universo. Afinal, o todo surgiu do nada, e o nada surgiu de onde? De Deus.
Recentemente li um livro onde o Vaticano e a cidade de Roma são os principais cenários. O título é “Anjos e Demônios”, do escritor Dan Brown, o mesmo de “O código da Vinci”. A história ficcional narra a tentativa de destruição do Vaticano às vésperas de um conclave, por parte de uma fraternidade de intelectuais conhecida como “Illuminati”, que teria ressurgido após anos de obscuridade para atingir o seu maior inimigo, a Igreja Católica.
As referências a obras, monumentos, leis do Vaticano e os Illuminati são factuais.
Escrito de maneira primorosa, o livro mais parece um roteiro de cinema pelo seu dinamismo, pela costura inteligente entre diálogos e episódios que vão se desenrolando em capítulos, envolvendo o leitor a cada página. É uma leitura visual, lê-se e logo imagina visualmente todos os acontecimentos.
O autor realizou uma detalhada pesquisa sobre a Igreja. Passando de Galileu à Maçonaria, fala sobre mistérios escondidos sob os mantos católicos, contrapondo os protagonistas em um embate entre Ciência X Religião X Mídia.
Ele lança diversas questões, como: Qual é o limite da imprensa? Até que ponto temos o direito à informação? Deus existe? A ciência explica tudo? Qual a maior riqueza que possuímos?
Ao final, o leitor se vê preenchido de interrogações e de uma fé divina, contemplando e dialogando com Deus.
A Igreja Católica possui um inquestionável poder não somente pelo seu dinheiro, influência e número de fiéis; mas pela força de união, pela concretude de esperanças e pela força de sua fé. Esse é o seu verdadeiro poder, o poder divino. Tal é na obra de Dan Brown, tal é na realidade.
Enquanto os católicos celebram a escolha de um novo Papa no livro “Anjos e Demônios”, nós, brasileiros, celebramos a visita papal. Contudo, não esqueçamos que assim como não estamos sós neste mundo, o Catolicismo não é a única religião existente no país. Festejar sim, mas respeitando o espaço alheio. Feriado seria mesmo necessário?
2 comentários:
feriado nunca é demais, fabiola!!!
e os rodoviários, têm o direito de me fazer ficar preso em casa??? é algo a se pensar.
falando sério, acho que fazer feriado pra santos católicos, apesar de ser ótimo, é ruim, porque dá a entender que o Brasil é um Estado religioso.
Alan Araguaia
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