domingo, 4 de março de 2007

"Esqueçam o que eu fiz"

Lula, pelo andar da carruagem, está seguindo o exemplo do seu antecessor. No caso de FHC, este pediu para que esquecessem tudo que escreveu. Lula não escreveu nada, mas fez muita coisa, a que deve grande parte do seu eleitorado cativo. Ainda não falou com todas as letras, mas repito, pelo andar da carruagem, quer que esqueçamos tudo o que ele fez nos tempos de sindicalista combativo, de sapo barbudo e sujo. Sem entrar no juízo de valor do seu passado (não estou dizendo que prefiro o Lula de ontem ou o de hoje, muito pelo contrário), é no mínimo desconcertante ouvi-lo falar que pretende restringir o direito de greve dos servidores públicos e dos privados também (ontem, no encontro do Grupo do Rio, em Georgetown, Guiana). Antes de se transformar em príncipe, quando era um reles sapo, foi um dos deputados constituintes que lutou para que fosse inserida na Carta de 1988 o direito irrestrito de greve aos trabalhadores. Essa é a lei que rege as relações capital-trabalho na maioria dos países arrumadinhos. Por que Lula quer fazer diferente aqui?

A OAB já se manifestou contra. As centrais sindicais fazem coro de que não aceitarão esse tipo de intervenção. Mas Lula agora só ouve seus amigos da UDR, da Fiesp, do Fórum Econômico Mundial... é preciso balancear essas relações. Não caio no senso-comum das esquerdas de que Lula deve fazer um governo mandando uma banana para o empresariado e só atender as demandas do proletariado. Isso é uma loucura. Mas o direito de greve é uma conquista histórica dos trabalhadores, e é preciso mais cautela antes de mexer nesse vespeiro. Desse jeito, tendo a acreditar que Lula é de fato pautado pela mídia, que sensacionaliza o "caos" que uma greve provoca na vida da sociedade "que não tem nada a ver com isso". São os mesmos que falavam antes que não tinham nada a ver com a violência nas favelas e estão sentindo o resultado de sua indiferença.

Alan Araguaia

Um comentário:

Anônimo disse...

"...não estou dizendo que prefiro o Lula de ontem ou o de hoje, muito pelo contrário". Me assustei com essa frase. Principalmente o uso da palavra "muito".