Uma imagem que mostra do peito ao rosto de uma pessoa chama-se de tomada close up (o mesmo nome de um creme dental), pois é uma tomada de aproximação. Ela descreve como e quem é o personagem por meio de sua face. Um plano médio (dos joelhos para cima), mostra a roupa, o corpo e parte do cenário, dizendo-nos de como ele se veste e fala através do corpo e; um plano geral, o ator e o ambiente onde se encontra. Tudo é descrito, basta observar.
Não há nada de extraordinário nesse filme, o que ele tem de interessante são os detalhes, pode-se dizer aí a maneira como a protagonista foi construída (merecidamente a atriz Helen Mirren ganhou o Oscar de melhor atriz, mesmo eu não tendo assistido a todos os filmes em que as outras atrizes concorrentes atuam. Não que o Oscar seja lá grande coisa, mas é sempre respeitador ser ganhador de uma estatueta dourada). Ela é a rainha e é uma rainha.
“Ao dirigir-se a ela, chame-a de ‘madame’com o som fechado”, diz o inspetor do Palácio de Buckingham. Há tantas convenções em torno da realeza que seria necessário um manual: jamais dê às costas para a rainha, cumprimente-a flexionando o corpo como fazem os japoneses em sinal de reverência; ou caso a família real esteja em seu palácio real, em Londres, a bandeira fica hasteada, etc. São minuciosos os gestos, os elementos, as convenções, as regras, e por aí vai.
Ao assistir um filme, não somente o veja, observe-o. Assim chegará mais próximo da idéia da concepção do diretor e, compreenderá mais claramente um filme (mesmo aqueles estaparfúdios, onde é necessário assistir mais de uma vez para compreendê-lo).
Quinta-feira, dia primeiro de março, foi a vez de ver “Babel”, a trama multi-étnica do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, famoso por suas duas obras anteriores, “Amores brutos” e “21 gramas”. A idéia é boa, há ótimas atuações, belos cenários e tristes desfechos, com a mesma lógica desse mundo desigual: o pobre sempre se dá mal.
Aí entram os detalhes, ambientações completamente diferentes (cada uma em um país) costuradas através de realidades contrastantes: garotos marroquinos, uma triste mulher americana, um ônibus, um rifle, um tiro. E aí se inicia a Babel.
Babel é uma palavra em acadiano que significa Bab ilu. Deriva de Bad ("porta", "portão") e ilu ("Deus") e significa "Porta de Deus". Para os judeus, o significado é de "confusão" em harmonia (Gênesis 11:9). Para Moisés teria derivado do nome Babel, em hebraico Bavél, da raiz do verbo ba.lál, que significa "confundir.
Essa multietnicidade embaralha nossos conceitos porque somos homens criados em países e culturas distintas, com seus idiomas, modos à mesa, roupas, relação homem-mulher e todo o mais.
Existem fronteiras geográficas, políticas, culturais e sociais. O olhar do rico e do pobre, do Ocidente e do Oriente. A babel de hoje é um mundo globalizado, ligado entre si. Não há como se vedar diante do outro, pois o que ele faz, repercute sobre mim. E isso que o filme “Babel” propõe.
Assistir a filmes é prazeroso, mas observá-los traz muito mais aprendizado. Olhe tudo, olhe através do olhar dos personagens, como eles se posicionam diante de si próprios e do mundo. Olhe a si mesmo. Aprenda com os outros (mesmo os personagens) e aprenderá sobre si próprio.
Os filmes são um bom exercício para observação. “A Rainha” e “Babel” me ensinaram isso. Compreender essas histórias nos leva a entender do porquê foram indicados ao Oscar, Globo de Ouro ou Cannes. Mesmo os filmes ruins, são bons para exercício da observação.
Elizabeth II é uma mulher observadora e, se não fosse, talvez não teria tanta bagagem para comandar uma monarquia com elegância. Brad Pitt (em ótima atuação) e Cate Blanchett têm a oportunidade (mesmo que infortuita) de ver de perto uma comunidade carente no meio do deserto em Marrocos dentro de “Babel”: as vestimentas das mulheres, o fumo em um cachimbo marroquino, a casa feita de pedra onde não há móveis e as pessoas se sentam sob tapetes, etc.
Exercite, pratique, observe, treine o seu olhar!
"Se quiser ser compreendido, escute". – Babel
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