quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sobre as vitórias da mídia

Há mais de vinte anos, Adriano Duarte Rodrigues, teórico da comunicação, escrevia: "a comunicação não é apenas um instrumento à disposição dos indivíduos, dos grupos informais ou dos grupos organizados para darem a conhecer fatos, acontecimentos, pensamentos, vontades ou afetos. É, sobretudo, o processo instituinte do espaço público em que se desenrolam as suas ações e os seus discursos e coincide com o próprio jogo dos papéis que as instituições lhes destinam. Daí a natureza paradoxal da comunicação, ao mesmo tempo instituinte e instituída, processo de elaboração de um espaço público e agenciamento de regras impostas pela conformidade social, pluralidade feita de múltiplas singularidades" (1990, p. 141)

Essa afirmação, que demonstra o caráter transversal da comunicação, e como ela estrutura a atual sociedade, parece-me particularmente relevante nos casos em que percebemos os interesses das grandes empresas de mídia em interferir diretamente na realidade social do país. E, de fato, são muitas as suas vitórias. Agregando-se com segmentos conservadores das elites brasileiras, a mais recente diz respeito ao retrocesso do governo em relação ao Plano Nacional dos Direitos Humanos. Venício Lima relembra esse fato na Carta Maior.

Como disse, as vitórias são muitas. A queda do diploma do jornalismo e a extinção da Lei de imprensa contribuem para um processo de desregulação total do campo da comunicação, ficando os seus agentes (jornalistas, leitores e afins) à mercê desses interesses corporativos privados. Já tratamos do tema aqui.

Apesar de muito termos avançado com o governo Lula, em termos de democratização efetiva de várias eferas importantes (particularmente no campo da cultura e da comunicação), reformas políticas mais profundas esbarram nesse autoritarismo social que ainda insiste em permenecer na sociedade brasileira. Essa é uma nota de pesar.

Fabrício Mattos

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