terça-feira, 31 de julho de 2007

Os conhecidos também morrem

Quando soube da morte do Professor Lauande (hoje de manhã), fiquei um tempo sem acreditar que fosse a pessoa que eu estava pensando. As informações batiam: Lauande, comunista, professor de Sociologia... ainda tenho uma sensação estranha toda vez que sei que um conhecido meu (mesmo que seja de vista, como praticamente se trata nesse caso) morre. Isso significa que ele não existe mais. Sei que as pessoas morrem, mas é diferente quando se viu elas vivas, raciocinando, se movimentando... O cérebro do Lauande não pensa mais! Seu corpo não se move mais! Sim, podem argumentar que suas idéias continuam vivas, quem quiser acessar o blog dele e estiver desavisado pode pensar que nesse momento ele está pensando no próximo post... porque seus textos são uma prova em contrário, estão lá, escritos no presente: eu acho, eu tô vendo, lendo... Tudo bem, mas não é disso que eu tô falando.

Fui aluno do Lauande no segundo ano do ensino médio, no CEFET, numa época em que fui comunista, assim como ele. Um comunista não muito autêntico, com muitas dúvidas políticas e existenciais - esse tipo de coisa que vai minando o comunista. O próprio Lauande era um comunista do século XXI, pois defendia a democracia. Também tinha toques de anarquismo, já que não tolerava provas e notas. Todo mundo tirava 10 com o Lauande, mas era perceptível a olhares mais atentos que para ele aquilo não passava de números, exigências canhestras do sistema de ensino capitalista. O que ele pretendia enquanto professor era esgrimar contra o comodismo pequeno-burguês de nós, adolescentes. Isso com um fino senso de humor, de forma que as provocações passavam desapercebidas a muitos. Não durou muito como nosso professor. Logo foi substituído por uma gordinha que adorava provas, notas e listas de frequência. Mas que era só isso.

É o que eu lembro de Lauande e foi assim que nossas existências se cruzaram. Ele, em sua solicitude, ainda nos deixou no quadro o seu email. Lembro que anotei e que começava com a palavra "mocajuba" e o número 21. Vendo o perfil no seu blog, entendi que Mocajuba tinha um significado especial para ele. Já pensei em mandar um email para ele, mas é aquilo que já falei: nunca pensei que ele fosse morrer.

Alan Araguaia

3 comentários:

Fabíola Corrêa disse...

Não esperamos pelo fim porque o homem pensa que sempre vai existir.
Cada dia é um final, mas o encerramento de um ciclo marca a passagem da vida. Se falhamos, vai ficar para quando Deus quiser.

Fabíola Corrêa disse...

Qual o blog dele?

Anônimo disse...

acabei de linkar lá.