sexta-feira, 29 de maio de 2009

Valeu, Fábio.

Fábio Castro despediu-se hoje da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom). Foi aplaudido pelos servidores, ganhou uma placa de homenagem e fez questão de tirar fotos com todos os presentes. Tenho grande admiração e respeito pelo professor Fábio, que fez um trabalho intelectual e moralmente honesto na Secom. Fica aqui o meu reconhecimento.

Alan Araguaia

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Um encontro casual

Andava nas ruas abarrotadas de gente no centro, olhando para um depois para outro, tentando adivinhar o que significavam aquelas fisionomias. Não era algo meditado, não havia ciência alguma nesse ato. Simplesmente impulso, ao qual se entregava autocomplacente. Um homem em particular chamou-lhe a atenção em todo aquele movimento. Vestido com um roto paletó e calças um pouco curtas para si, deixando entrever as canelas finas, andava de um lado para o outro como quem busca uma solução. Mas não parecia concentrado em reflexões, pelo contrário: dedo em riste, livro grosso aberto na mão, dirigia-se a todos os passantes. De certo fazia um discurso. Trinta anos haviam se passado desde que deixou o colégio, mas reconheceu Frederico, o amigo inseparável. Aproximou-se surpreso, mas feliz com aquele reencontro.

"Arrependam-se", gritava Fred, exaltado. "Esse é o último chamado dos céus!" Sorriso tímido, ele caminhava devagar na direção do amigo de outros tempos. Mais retraído ficou quando ao fitá-lo, Fred não esboçou nenhuma alteração, mantendo os mesmos olhos injetados. "Tu, irmão, não mais andes sem rumo, com um vazio no coração. Ouça o chamado de Deus!", bradou em sua direção. Assustado com a admoestação particular, já desanimara de reavivá-lo a lembrança. Ainda assim, esforçando a voz para fora, perguntou: "Fred, és tu?".

Surpreso com a interpelação, coisa rara naquele seu ofício, o pregador franziu ainda mais a testa e assim ficou durante longos segundos. A essa altura, o outro já se recriminava duramente por ter se aproximado. "Que bobagem! Faz tanto tempo que não nos vemos! Devia ter seguido meu caminho", pensava angustiosamente. "Desculpe, amigo, continue seu trabalho", despediu-se afoitamente. Mas quando preparava o primeiro passo adiante, Fred conteve-o com a mão e disse:

"Deus marcou esse encontro. Vivi esses anos a mais amarga vida, por desobediência às suas sagradas leis", declarou em tom de cerimônia. Ele não podia conter mais o desagrado da situação. Sua mente dizia: "Fuja!" Mas ficou, receando magoar o amigo. Ouviu Fred relatar durante cinco minutos todo o sofrimento por que passara, tendo sido mendigo e adquirido doenças incuráveis. "Foi aí que a dor forçou-me a entrar em uma igreja, converti-me e hoje vivo feliz", concluiu, e só aí abriu um largo sorriso. Abraçou-o emocionado, e fez o convite para ir assistir o culto à noite. Ele aceitou vivamente, pegou um folheto e despediu-se. "Até mais tarde!", ainda gritou de longe. Nunca mais viu Fred naquela rua abarrotada do centro.

sábado, 9 de maio de 2009

Surto psicótico

Não resistindo aos seus impulsos mórbidos, desde ontem o caderno Polícia do jornal Diário do Pará traz fotos de cadáveres (mal) ocultados por tarjas pretas. Nelas, os dizeres: "Censurado pela Justiça do Pará". Dá vontade de rir de tamanha falta de senso de realidade. Será que eles esperam uma manifestação popular em seu favor?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A porta-voz não solicitada

Para quem Eliane Cantanhêde fala? A pergunta me ocorreu após ler a sua coluna de hoje, reproduzida no Diário do Jader Barbalho, p. B-2. É muito ladina, essa Eliane. Ela me fisgou pelo primeiro parágrafo da coluna, em que ironiza a esquizofrenia do nosso presidente, ao tratar pilantras do quilate de Collor e Renan Calheiros como velhos companheiros. Até aí tudo bem. "Gente boa, essa Eliane", penso ingenuamente, enquanto sigo a leitura. No entanto, o verdadeiro objetivo do texto revela-se na segunda metade: fazer lobby pela privatização da Infraero. Em seu vocabulário neo-liberal, privatização é sinônimo de "sanear cargos, finanças e operações".
Para Eliane, o remédio para o mal da corrupção e da "boquinha" é privatizar. Ou seja: se é pra particulares apropriarem-se indevidamente dos bens públicos, que estes deixem de ser públicos, oras. Simples, não? Mas eu discordo.

Não vou dizer que sou essencialmente contra toda e qualquer privatização (também não sou a favor). Mas percebi no texto de Eliane Cantanhêde uma tentativa descarada de manipular a opinião pública, tratando a privatização como se fosse uma bandeira nacional. Fazendo crer que os empresários são todos homens de bem, interessados no progresso do país. Veja por exemplo esse trecho: "ao contrário de governos, empresário sério não põe seu rico dinheirinho em empresas bagunçadas e suspeitas". Certo. Mas onde estão esses empresários sérios? Certamente que não nos setores já privatizados, como o das Telecomunicações, envolvida até o pescoço em todos os escândalos nacionais da última década. Quem duvida que é essa mesma turma - que apesar de tantas denúncias é tratada pela mídia como "empresários sérios - a maior candidata a abocanhar o setor de aeroportos?

Eliane diz ao final do texto, incluindo-me sem a minha vontade em seu bloco: "a gente fica de olho". Não tenho a menor dúvida disso.