quinta-feira, 7 de maio de 2009

A porta-voz não solicitada

Para quem Eliane Cantanhêde fala? A pergunta me ocorreu após ler a sua coluna de hoje, reproduzida no Diário do Jader Barbalho, p. B-2. É muito ladina, essa Eliane. Ela me fisgou pelo primeiro parágrafo da coluna, em que ironiza a esquizofrenia do nosso presidente, ao tratar pilantras do quilate de Collor e Renan Calheiros como velhos companheiros. Até aí tudo bem. "Gente boa, essa Eliane", penso ingenuamente, enquanto sigo a leitura. No entanto, o verdadeiro objetivo do texto revela-se na segunda metade: fazer lobby pela privatização da Infraero. Em seu vocabulário neo-liberal, privatização é sinônimo de "sanear cargos, finanças e operações".
Para Eliane, o remédio para o mal da corrupção e da "boquinha" é privatizar. Ou seja: se é pra particulares apropriarem-se indevidamente dos bens públicos, que estes deixem de ser públicos, oras. Simples, não? Mas eu discordo.

Não vou dizer que sou essencialmente contra toda e qualquer privatização (também não sou a favor). Mas percebi no texto de Eliane Cantanhêde uma tentativa descarada de manipular a opinião pública, tratando a privatização como se fosse uma bandeira nacional. Fazendo crer que os empresários são todos homens de bem, interessados no progresso do país. Veja por exemplo esse trecho: "ao contrário de governos, empresário sério não põe seu rico dinheirinho em empresas bagunçadas e suspeitas". Certo. Mas onde estão esses empresários sérios? Certamente que não nos setores já privatizados, como o das Telecomunicações, envolvida até o pescoço em todos os escândalos nacionais da última década. Quem duvida que é essa mesma turma - que apesar de tantas denúncias é tratada pela mídia como "empresários sérios - a maior candidata a abocanhar o setor de aeroportos?

Eliane diz ao final do texto, incluindo-me sem a minha vontade em seu bloco: "a gente fica de olho". Não tenho a menor dúvida disso.

Um comentário:

Camila Chaves disse...

também sou contra as privatizações, ou digo ainda que sou pela estatização daquelas empresas que consomem um tanto de dinheiro público em benefícios privados, como é o caso da vale.

não vi o texto da eliane cantanhede mas pela análise feita por aqui, certamente teria tido a mesma indignação. gostei do texto. foi bem bom. (: