quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Da inteligência superficial para a inteligência experimental

Sabe, esse negócio que a mídia não aprofunda nada é realmente um problema. Mas também, outras questões são relevantes: como, num ritmo frenético de jornal, tu vais ter tempo pra aprofundar todos os assuntos pautados?
Além disso, como esse aprofundamento é possível já que não temos como saber, principalmente os jornalistas, especificamente de todos os assuntos?

Digamos, cientificamente, que o mais provável é a mídia repetir os significados que estão presentes no entorno social, mas, ao mesmo tempo, não dá pros profissionais serem todos nivelados por baixo. Mesmo quando tu escreves uma matéria do caderno polícia, por exemplo, sem querer chamar a atenção, levando pro lado humanista e tal, vem depois um editor e transforma o teu texto num cartaz com aquela manchete que tu não escrevestes: "MORTO SEM SABER PORQUÊ". Enfim, um dilema.

Eu, pelo menos, sinto falta da mídia falando da própria mídia. E eu não to falando do Alberto Dines, porque que às vezes, sinceramente, é um saco esse Observatório da Imprensa. Eu digo outras mídias falando das mídias porquê acho interessante essa história de "seja a sua própria mídia", hoje tão propagada pela internet. A coisa é tão improtante que nós vimos que já fizeram até campanhas pra descredibilizar os blogs.

Polêmicas à parte, o que eu digo não é apologia às novas tecnologias, mas acho que é uma forma de colocar representações múltiplas, nem melhores nem piores, esse filtro cada um vai fazer, desde que existam. E que existam para além dos modos de dizer do jornalismo tradicional e da empresa que vende a mercadoria-informação ou imagem-marca.

Ainda falando cientificamente, a mídia não é um ator social "par excellence". Os críticos falam de mídia como falam de globalização : "a mídia isso, a globalização aquilo"... Como premissa acho bom pensar que a globalização é um processo que não tem um direcionamento único e a mídia é um campo social, onde ocorrem disputas de poder. Isso é básico.

O que estamos discutindo, sobre a "inteligência superficial" da mídia, também é relativo. Lemos coisas absurdas tanto na Caros Amigos quanto na Veja, ou no Diário e Liberal. Mas notem os tempos diferentes: revista mensal, revista semanal, jornal diário: representações diferentes, fontes diferentes, apuração diferenciada. e nem estamos falando da instantaneidade do jornalismo na internet ou no rádio.

Hoje, por exemplo, vi uma entrevista excelente no Jornal do SBT sobre as Hidrelétricas que estão sendo pensadas na Amazônia. O cara não era daqui o nome dele era Glen não sei o quê, e ele é especialista em questões de energia na Amérrica Latina. Ele detonou, dizendo inclusive que " é impensável que a REDE CELPA leve energia a todos as populações ribeirinhas da Amazônia" E prosseguiu dizendo que uma iniciativa viável era a energia solar para essas populações. Ele disse também do descaso das empresas com as famílias desabrigadas, afirmando que 70% deles não tem nenhum reembolso, falou da questão dos interesses internacionais etc. Só não foi melhor por causa do entrevistador, e acho que aqui que a gente entra. (Se fossemos nós seria melhor? E se fosse um ribeirinho despossado pelas barragens, como seria? E se fosse um representante da CELPa? E se fosse....) Penso que é nessa disputa de acesso que a gente se encontra hoje.

Acho que a vantagem da internet e de ser a sua própria mídia tá no que o Bourdieu fala de conhecimento da intenção. Ele usa o exemplo de Wittgenstein: "uma intenção, encarna-se numa situação, em costumes e em instituições humanas. Se a técnica do jogo de xadrez não existisse, eu não poderia ter a intenção de jogar o xadrez." Nas palavras de Bourdieu: "A intenção política só se constitui na relação com um estado do jogo político e, mais precisamente, do universo das técnicas de ação e de expressão que ele oferece em dado momento".

O caso é que eu já vi Bourdieu sendo citado até pelo Mainardi, ou seja, toda construção é apropriação, desde a "inteligência superficial" até a inteligência experimental, passando também pela inteligência artificial.

Pra compartilhar um pouco dessas intenções e experimentações e maneira diferenciada de se apropriar da mídia, deixo vocês com um vídeo muito doido que eu assisti ainda agora no Youtube. É do glauber rocha. É uma homenagem ao Dicavalcanti, sendo filmado no dia do seu enterro. Ele tem uma idéia de nacional muito diferente da idéia de integração nacional que as redes de televisão, principalmente a Globo, construiram pra nós. Divirtam-se.

Fabrício Mattos

Glauber - Di cavalcanti Di Glauber - parte 1


Glauber - Di Cavalcante Di Glauber - parte 2

Um comentário:

Anônimo disse...

Viste o blog do Reinaldo Azevedo, aquele ultra-Mainardi? Ele mapeia o painel do leitor da Folha, inverstiga as vidas das pessoas que são contra a sua opinião, e as desqualifica. É um negócio bizarro. Apesar de achares o Observatório um saco, vai um link de um artigo sobre ;-):

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=456JDB002

Abraço!

Alan Araguaia