quinta-feira, 2 de julho de 2009

Diploma - outra posição

Evidenciando o nome deste blog, proponho uma segunda posição neste debate sobre o diploma de jornalismo. Talvez complementar à do Araguaia, mas veremos.

A nã-obrigatoriedade do diploma de jornalismo implica obviamente num processo de maiores proporcões, para além do "fato consumado" da decisão do STF. Está claro, para mim, que é o ápice de ganho dos conglomerados midiáticos numa relação de força entre a maior instituição de Justiça do Brasil e esta autodenominada "grande imprensa". O desgaste da figura de seu presidente, Gilmar Mendes, seguidos de "pequenos ou grandes escândalos" (arma funcional dessa mídia) ligados às decisões do STF, demonstram e demarcam este quadro. Não podemos compreender a história (qualquer história) apenas olhando "os fatos", nos posicionarmos daí pra frente. O "resgate" da legitimidade dessa instituição está latente nesse jogo, e a trégua que segue é uma demonstração disso. Essa é uma questão.

Segundo, a "cassação" do diploma não veio sozinha. Ela aboliu também, um ano antes, a Lei de imprensa, desqualificada basicamente por ter sido criada na época da ditadura militar. Embora muitos de seus artigos fossem retrógrados (em clara relação com aquele regime), existiam alguns ganhos para o cidadão comum, como o fato de poder recorrer à justiça dentro de uma legistação que previa tais crimes específicamente nessa área.

Essas "desregulações", promovidas pelo Supremo Tribunal em conjunto com os conglomerados, tem também uma relação profunda com o próprio campo de atuação dos profissionais ligados à área. Ora, estamos falando, aqui, de uma das áreas estratégicas de conformação dos imaginários sociais do mundo contemporâneo, atuação dos movimentos sociais, e conformação da democracia, como política de maior abrangência. A democracia não é, e nunca será, conformada por uma gama qualquer de intelectuais, sejam eles jornalistas, sociólogos, advogados, biólogos, matemáticos etc.

O debate não pode ficar pautado apenas na ilusão do fato de que tal ou qual profissional é "melhor" ou "pior" por ter cursado um curso de jornalismo. Até porque, esta entidade, "curso de graduação em jornalismo" tem também suas contradições. Você não pode dizer que o curso de jornalismo da UFPA é igual a um curso de jornalismo na UFRJ ou na USP.
A diferença não está, em primeira mão, na qualidade dos cursos, mas nas formas de autonomização do jornalismo como campo de importância acadêmica. A comparação entre esses espaços comporta seus desenvolvimentos específicos (por exemplo, a criação de cursos de mestrado e doutorado, o que qualifica a discussão), a formação de seus professores (já que estamos falando de um curso eminentemente multidisciplinar), e tambem, em níveis mais gerais, das políticas públicas para educação no Brasil, privilegiando alguns "centros".

Concordo com o Araguaia e não sou a favor da obrigatoriedade do diploma específico de jornalista para exercer a profissão. Mas é importante que tenha um diploma, principalmente em sua área de atuação. Mas, pensando de outro modo, como seria este texto se eu não tivesse passado pela universidade. E este blog, existiria? A universidade proporciona, além de debates e diplomas, encontros e experiências. Antes do diploma, o mundo pelo qual o aluno passa também tem um lado de defesa da sociedade, olhar a mídia e ter a oportunidade de se posicionar sem depénder exclusivamente dela. É uma mediação importante contra os mandos e desmandos das empresas. E essa mediação diz respeito a construção da posição social de cada um.

Para finalizar, será o jornalista um "especialista em generalidades"? Não creio, principalmente no que tange às empresas em suas conformações de cadernos (política, cultura, polícia etc.). Quem escreve tais cadernos são os especialistas em cada área, e a maioria tem diploma, sendo esse de jornalismo ou não. Há uma diferença entre exercer a comunicação como forma de cidadania, disputando os espaços públicos, e exercer uma profissão, que também é uma forma de exercício da demacracia, mass tolida, pelas suas regras internas. Mas, as vozes ouvidas, cotidianamente, em todos eles, vêm de onde? Das universidades. É sintomático que as mídias não necessitem mais do diploma, mas recorram aos "outros" diplomados para construir o seu discurso.

Eu vou-me embora pra outro lugar, talvez uma mistura de sociologia com antropologia.

Fabrício Mattos

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Bala,

realmente acho que nossas visões sobre esse assunto se complementam. Tu tocaste em um ponto importante que me escapou: essa decisão não tem nada a ver com zelo pela "liberdade de expressão", como o tal do Gilmar falou. Ela foi, sim, resultado do lobby das empresas de comunicação, através da Abert e daquele sindicato patronal paulista. Mas isso não tira o mérito da decisão, como alguns defendem. Não sou a favor dessa terra sem lei que o GM prega, porque isso só é bom pros donos de jornais. Não concordo com a tese dele, de que a consequência disso é a queda do registro de jornalista. Isso sim é uma ameaça à categoria. Todas as profissões devem ser regulamentadas, seja de doméstica, pedreiro, médico e inclusive jornalista. Isso não tem nada a ver com diploma, mas com direitos trabalhistas.

Eu também, meu amigo, não sei se continuo nessa de jornalismo. rsrs E isso não vem de hoje, já conversamos muito sobre isso. Tô vendo aí o que eu faço da minha vida! hehe

abração

Alan Araguaia