segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cazuza 50 anos: Suporte, baby. Baby, suporte.

50 anos de aniversário de Cazuza. Penso... quem seria o “senhor” Cazuza? Algum senhor moleque, ou senhor(a) louca, ou entregue às gravadoras (senhor Caetano), ocupando cargo político (senhor Gil), compondo mediocridades empresariais (senhor Frejat), vociferando na MTV (senhor Lobão)? É difícil dizer. “Cazuza gostava de aparecer”: frase de sua própria mãe. Minha opinião é que Cazuza era mais do tipo que gosta do “morde-assopra”. Pois bem. Suporte, baby.

Que diria Cazuza de um tempo em que a juventude se alarga para um sem fim, a infância encurta, a fase adulta talvez apareça, de vez em quando, nas entrelinhas da vida (quando começam a chegar as contas, por exemplo) e o grande perigo se torna chegar a velhice? Claro que, com as propagandas hi-tech que temos hoje, não dá pra imaginar o mundo de outra maneira (será?). Até Hollywood faz filme politizado... Realmente os tempos mudaram.

Muitos estudiosos afirmam que a “idéia de Brasil” ou de “identidade nacional” conformou-se (aliás, em toda nossa realidade latinoamericana), pelas indústrias culturais. Isso quer dizer que, primeiramente o rádio, e depois a televisão tiveram papel fundamental na construção e propagação dessa idéia de “cultura brasileira”. Nossa idéia de pertencimento foi forjada de maneira diferente da dos americanos (pelo cinema) ou dos alemães e franceses (literatura).

Portanto, justiça seja feita em sua memória: no Brasil, Cazuza ajudou a conformar, com seu comportamento (se não o dos próprios jovens de hoje, pelo menos o de seus pais), uma forma de hedonismo e de materialismo que também estava presente em Madonna (“You’re a superstar, Yes that what you are...”) e Michael Jackson (“I wanna rock with you, all nitgh...”), que “disputavam”, naqueles anos 80/90, com as músicas de Cazuza.

Até então, existiam lindas imagens do Arpoador e aquela coisa “alternativa” que era ir pra Bahia. Não existem mais, foram substituídas pela violência-espetáculo (cuja imagem-símbolo é a favela) que é passada cotidianamente na TV e noticiada na Internet. A Bahia inteira ficou resumida ao pelourinho, principalmente depois de “Ó paí, Ó”. Não estou dizendo que Cazuza era um babaca. Estou dizendo que ouvir Cazuza hoje é diferente. É um tempo bem vagabundo.

Passou a impregnar nesses nossos tempos a idéia dos “estilos de vida”, conhecidos também pela idéia de “corrosão do caráter”, em que o que importa é o imediatismo, a flexibilidade e o relativismo em relação aos valores. Desculpem, não quero parecer conservador (nem gosto tanto assim do Ariano Suassuna, antes de você me perguntar).

Só que esse aposto é necessário porque hoje é difícil fazer uma crítica direta a segmentos da população (principalmente de classe média) que se diz jovem (e descolado) não pode receber nunca um “não” como resposta (para simplificar). Nos Estados Unidos esta geração está sendo chamada de “Geração do Milênio”, que Cazuza não viveu para ver crescer.

Não basta apenas fazer as coisas que Gregório de Matos ou Cazuza fizeram. Tudo isso é muito divertido. Legal mesmo. Acredito que existe resistência na recusa. Aliás, ela começa exatamente aí. Só que vem a pergunta, rapeize: e depois?

Também não vou te dar lição de moral, já que estás lendo este texto até aqui (coisa que vai ficando mais rara hoje em dia... deves saber). Não se pode delimitar o comportamento, talvez nunca se pudesse.

Lembrar nostalgicamente de Cazuza como um herói, também não faz muito sentido. Mas Cazuza sabia que a resistência começa na vontade de ser. E que, sabendo portá-la, toda ferramenta é uma arma. Isso vale tanto para a música quanto para a vontade. E o melhor, em Cazuza, está na conjugação das duas.

“Se até o ano 2000, o mundo não acabar... e eu estiver vivo, na rua ou num bar...”
Não está. Infelizmente. A música acaba por ser cantada por Paulinho Moska. Não é que ele seja ruim, pelo contrário, é um dos melhores dessa geração. Para repetir um clichê – amor e dor, allá Cazuza – digo que, nessa música, o criador se parece mais com a criatura.

Cássia Eller queria ser Cazuza. Cazuza queria ser Ângela Rôro. Assim sucessivamente... caminhando. E hoje caminhamos na presenteidade do futuro.
Tivemos de Cazuza o que esperávamos, o que ele tinha de pior, de melhor, e mais um pouco. O blues pode caminhar conosco, entre o poder e a miséria, porque ele é assim. Mas, pro dia nascer feliz, é preciso vontade e alegria, para existir nessa multidão. Que é nosso inferno e céu.... de cada dia.

Fabrício Mattos
Jornalista e Mestrando em Políticas Públicas e Sociedade da Universidade Estadual do Ceará.

Um comentário:

Anônimo disse...

e aí meu velho, já voltaste de Salinas? Hoje é meu aniversário, me dê os parabéns! hehe

um abraço, ligar-te-ei hoje

Araguaia