quinta-feira, 4 de junho de 2009

Memórias esparsas I

No início da minha adolescência tive uma breve militância no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Minha irmã mais velha já fazia parte do PSTU há uns três ou quatro anos e, evidentemente, isso me influenciou. Nasci em uma família de esquerda: meu pai se definia como anarco-sindicalista, além de simpatizante do PSTU. Tendo algumas idéias do que significava ser anarco-sindicalista, não entendia como ele podia simpatizar com o partido. Enfim. Desde cedo, o meu vício de exigir coerência alheia se apresentava.

Mas esse texto pretende ser um inventário de minha "trajetória política". Até para descobrir no que hoje eu acredito e no que deixei de acreditar.

No início de 2002, após um congresso partidário, me afastei do PSTU. O verbo "afastar" é bem apropriado. Não me "desliguei" do partido. Simplesmente deixei de ir, sem dar explicações. Junto com Flávio, Josi, Aruana (lembro que minha irmã estava meio em cima do muro), Solano, e acho que o Krato também, fiz parte da tendência minoritária - que acabou continuando minoritária, nossas teses foram derrotadas. Hoje tenho uma certa vergonha por não me lembrar o que eram exatamente essas teses. Sei que eram as mais legais. Eram um tanto heterodoxas, e isso me agradava.

Esse fato - não lembrar das teses - talvez seja sintomático de uma característica de minha participação na política - não sei se boa ou ruim: o "estar junto", o sentimento de identificação era o que mais me interessava. Quando se falava em revolução, minha mente e coração eram mobilizados menos pela idéia da sociedade justa e igualitária dela resultante, do que a sensação inebriante de "tomar o poder", acompanhado por uma multidão de companheiros. Imaginava nós juntos cantando os hinos comunistas, arrastando os burgueses aos paredões, com aquele sentimento que deve ser inigualável de protagonizar um grande momento da História.

Sim, a dimensão estética da Revolução me interessava (bem) mais do que a política. Escrevo isso como uma constatação que surge nesse momento, não querendo fazer nenhuma defesa.

Após essa militância no PSTU, tive algumas poucas experiências organizativas. Não queria rumar para as outras correntes que existiam (algumas ainda estão aí): Força Socialista, CST, PCdoB, Articulação... pensava que se desgostara do PSTU, não seriam esses que me empolgariam.

Era também o que pensavam alguns companheiros que haviam saído do PSTU. Eu, Flávio, Josi, Valdir, Karina, Léo, Fábio... começamos a nos reunir, a estudar a conjuntura. "Caracterizávamos" (há muito tempo não uso essa palavra!) que o movimento de massas vivia um momento de refluxo. Os ativistas e as massas estavam desiludidas com as lideranças, que cada vez mais se "endireitavam". Ainda hoje, concordo com essa visão. A esquerda no poder não é tão diferente assim, afinal. Pra dizer o mínimo.

Nosso grupo, que chamamos de "G", por brincadeira, não durou muito. Não sei dizer por quê. Acho que desanimamos. Éramos muito pequenos! Cada um foi cuidar da sua vida.

Aí ingressei no curso de Comunicação Social da UFPA. Com 17 anos, já estava cansado de muita coisa. Olhava com ceticismo o movimento estudantil universitário. Ali certamente tinha um monte de arrogância da minha parte, mas encarava o entusiasmo de meus colegas em descobrirem a política como uma coisa infantil. Centro acadêmico, passagens em sala de aula para mobilizar contra isso, contra aquilo, ocupação do prédio da Reitoria... olhava para tudo isso e me perguntava: para quê? No começo acompanhei um pouco o movimento, mais por força do hábito do que por outra coisa. E também porque as meninas eram bonitas. Era gostosa aquela companhia.

Hoje, após um tempo de canseira que embaralhou minhas idéias, questiono-me sobre o que sobrou de toda essa história. Só uma coisa parece ser certa: continuo de esquerda.

Alan Araguaia

Um comentário:

Repórter de Sandálias disse...

Sabe, acho que os princípios dessa dicotomia esquerda e direita acabaram se esfacelando juntamente com a maioria dos conceitos e ideologias que tentam sobreviver na pós-modernidade. O engraçado é perceber como os ideiais de cada um desses opostos foram criando estereótipos muito marcantes no decorrer do tempo. É por isso que, hoje, não consigo mais me encontrar nem do lado esquerdo, nem do direito. Faço questão de me manter bem no meio, nem na esquerda nem na direita, e de me definir como alguém que tem um lado político, sim, independentemente de partidarismos. Mas admiro quem ainda consegue se acha entre toda essa bagunça, rsrsrs...

História de vida!

:)

Bjo