A relação entre identidade-alteridade-poder é amplamemente discutida nos estudos culturais. A ética é fundamental nesse debate. A alteridade fundamenta a diferença, pois coloca a questão do poder no cerne do debate questionando "a partir de que lugar social se fala sobre o outro" ou mesmo "quem tem voz nesse debate"? Por mais que tente, o discurso conservador nunca conseguirá anular a presença do outro, pois este é uma força pulsante no entorno social, formadora de imaginário e incongruente com as histórias oficiais e oficiosas. Três exemplos da impossibilidade de anular o outro, no cinema, seguem abaixo.
O primeiro é o excelente "Zona de Guerra" (La Zona), de Rodrigo Plá. O filme narra histórias paralelas, de um jovem morador de um condomínio fechado na cidade do México (história de Alejandro), vivendo em sua realidade protegida. E também de um integrante de um grupo de assaltantes que resolve invadir esse condomínio fechado (história de Miguel). O filme aborda temas como a segregação nas metrópoles e a criação de "mundos fechados", paralelos e divididos, nos condomínios. Abaixo o trailer (em espanhol)´Nas locadoras você pode encontrar o filme legendado.
A vida dos outros ( Das Leben der Anderen, Alemanha, 2006) é outro ótimo exemplo da questão da alteridade. O outro exerce sobre nós uma influência que não podemos pressupor, mesmo que queiramos. O filme conta a história de um espião do governo alemão oriental que deve relatar "subversões" de um escritor contra o regime alemão. Nem a sociedade disciplinar desse período pode conter os afetos que envolvem o espião e seu espionado. Segue o trailer.
Persépolis (França, 2007), por outro lado conta a história e a geopolítica do Irã em animação. Por indicação de Fábio Castro, assisti a essa animação. A política apaerece na história da protagonista misturada com suas lembranças pessoais. De fato, Marjane Sartrapi conta a história (bem humorada e com tons sarcásticos) de sua adoslescência no Irã e na Europa, com destaque para as crises existenciais e os problemas com os "outros" e com ela mesma.
O Invasor (Brasil, 2001), de Beto Brant. "É bom não facilitar com essa gente. No fundo esse povo quer o seu carro, quer o seu cargo, o seu dinheiro, as suas roupas, querem comer a sua mulher, Ivan, é só ter uma chance". O clima tenso que povoa o imaginário da classe média impregna "O Invasor" da tensão que paira numa sociedade em que os mínimos privilégios devem ser mantidos a qualquer custo. O homem cordial é brasileiro é posto em cheque quando o personagem antagonista, vivivo por Paulo Miklos, questiona o seu lugar social, com seus próprios planos de ascensão. Trailer (alternativo) abaixo.